Aprendendo política bem cedo
Na década de 60, não lembro o ano, nos foi apresentada a política na sua essência. Eleições para a chapa dirigente do grêmio do CAP. O primeiro passo foram as inscrições de chapas postulantes, e somente duas apareceram organizadas e dispostas a ganhar. Uma delas apoiando a situação que era a Direção do colégio. A outra de oposição apoiada na Faculdade de Filosofia da UEG, que naquela época exercia oposição ao regime recém instalado pelos militares. Além disso formada por alguns alunos que pertenciam a famílias engajadas na resistência à ditadura. Ali estava o primeiro ponto da aula: a democracia admite forças oponentes nos pensamentos. Segundo ponto foi que o corpo de alunos que escolhia, de acordo com sua opinião, a melhor chapa para representá-lo.
O grande mérito da direção do CAP foi permitir que isso acontecesse, mesmo em época tão restritiva, mesmo sendo um colégio público pertencente a uma Universidade pública. O erro do grupo diretivo foi optar por uma chapa. Mas nós aprendemos isso também.
O terceiro ponto foi a campanha para captar os votos. Ambas as chapas, usavam o que aprendemos a chamar de “ corpo a corpo “, com conversas individuais e apresentações de idéias nas salas durante os intervalos. O colégio transformou-se em um caldeirão. Não me recordo de situações agressivas que tenham acontecido, mas posso estar esquecido. Alguém certamente poderá contribuir com seus comentários.
A chapa apoiada pela direção resolveu passar uma noite dentro do CAP, limpando as instalações, imaginando que esta estratégia fosse impressionar os indecisos ao voto. Foi uma noite muito divertida, com comida trazida de casa, música e muita conversa. Valeu a pena para quem participou, mas não rendeu votos, pois esta chapa perdeu a eleição.
Talvez muitos dos que participaram daquela noite, perceberam que em primeiro lugar limpar o colégio era função da direção, ou seja, se estava sujo era porque não limpavam. Mas estávamos apenas começando a nos tornarmos em seres políticos, que nunca mais deixamos de ser. Tiro no pé. Em segundo lugar a política em sua forma mais profunda está vinculada às ideias, as propostas e a credibilidade. O grupo vencedor atacou este ponto e foi mais convincente. Afinal o grupo lavaria o colégio, se eleitos, todos os dias ? Claro que não.
Imaginar este cenário em momento que, anos depois, quando uma turma de Medicina da agora UERJ, viu seu Reitor se levantar durante a cerimônia de formatura e se retirar, porque o discurso do orador não era condizente com as ideias do regime. Por esta razão tenho certeza que esta eleição do grêmio nos anos 60 foi muito importante para quem participou ativamente de seu desenrolar. Praticamente saindo das “ fraldas “ um grupo de jovens começou a entender que se relacionar é uma forma de praticar política, e a lidar com as escolhas, coisa que fazemos até hoje.
Marcus José, 15/03/2021