"Pic-nic no front"
"Na linha do teatro do absurdo, Fernando Arrabal trata o inverosímil como verosímil e com uma estranha naturalidade, expõe o absurdo de situações reais.
A seriedade do tema - a guerra – é desmontada através da impossibilidade real do mesmo. O que é violento, no absurdo deste espetáculo, torna-se humor. Zapo e Zepo, os inimigos, são iguais. Agem da mesma forma e ouvem as mesmas histórias dos seus superiores. A única diferença entre eles é o uniforme e esse é o único motivo para se matarem.
O autor faz-nos perceber que a banalização da vida e da morte continua a acontecer no mundo atual. Com humor, conta a história absurda de Zapo que, em combate, recebe a visita dos pais para um piquenique, no campo de batalha. O piquenique é recheado de acontecimentos insólitos.
Entre bombas, tiros, rajadas de metralhadora, a prisão do soldado inimigo Zepo e os enfermeiros, que farejam feridos, o banquete acontece com estranha tranquilidade." (disponível em CM Almada)
Humildade não era exatamente uma característica da gente naquela época. Acho que o Roberto de Cleto foi chamado pra botar um pouco de ordem na "zona" que aquilo estava virando. Porque, se não me engano, nós que não éramos tantos assim, já estávamos formando 3 grupos de teatro. Eu adaptando o "Admirável Mundo Novo" pra teatro; o Ivan com outro grupo e ainda tinha um terceiro que a essa altura não consigo lembrar.
Cleto (com a elegância do "Príncipe" que era sempre o papel dele no "Teatrinho Trol"(com os comerciais ao vivo da Neide Aparecida... saudade...)) sugeriu que montássemos só uma peça: "Somos todos do Jardim de Infância" do Domingos de Oliveira. Sugestão aceita por unanimidade! Acho que ele só tinha uma cópia da peça, a qual foi entregue pro Professor Sgarbi (se a memória não está me lascando novamente o Diretor do Aplicação na época) que devolveu toda riscada a lápis - censurada!).
Então o Cleto mandou o "Pic-nic no Front" do Arrabal, que passou tranquilamente. kkkk...que, por mais surreal que fosse, era mais crítica e direta que "Somos todos do Jardim de Infância". Pra caber todo o "elenco" o Cleto bolou um esquema de 3 palcos com a Família Tepan duplicada. Enquanto uma delas falava a outra fazia a mímica e vice-versa. O público podia escolher olhar pra uma família e escutar a outra e depois a gente trocava. Mais ou menos isso... E devido ao EXTRAORDINÁRIO sucesso de público e crítica fizemos pelo menos 3 encenações (que eu me lembre): Uma no nosso Aplicação, uma no Centro Educacional de Niterói e uma na Escola Municipal Joaquim Manuel de Macedo em Paquetá!
Paulo Mittelman, 21/02/23
Festival Estudantil de Música, banda de rock, Clube de Artes Plásticas, fotografia, várias formas de modelismo, projetos especiais para a escola, tudo isso não era um pouco demais? Na verdade, não. O fato de ficarmos na escola dois turnos nos deixava muito tempo livre prá “ter ideias”, “pensar em coisas”, já que o estudo ficava bem equacionado e sobrava tempo nas nossas tardes.
O fato é que andamos vendo uns filmes e peças de teatro e veio aquela tradicional vontade: nós podemos fazer isso também!
O primeiro que apareceu foi o Paulo Mittelman, com uma espetacular adaptação para o teatro do "Admirável Mundo Novo", do Aldous Huxley. Até hoje eu me surpreendo ao ler aquele trabalho, feito por um adolescente!!!
A questão é que encenar aquilo demandava uma experiência que não tínhamos.
Logo, logo inventei que queria ser um diretor e comecei a ler sobre o assunto, mas sem aquela caretice de trabalhar com textos prontos, marcações, etc. Nem queríamos parar as outras coisas prá escrever. Tínhamos que idealizar as cenas e, DEPOIS, montar o roteiro. Muito moderno mas, depois de várias tentativas do Ricardo Jochem e da Régina, como atores de “vanguarda”, sem texto nem marcações, vimos que dali não sair nada de bom antes do fim dos tempos....
Um pouco depois, não me lembro bem como, alguém na escola pediu apoio a uma entidade meio mítica, a Secretaria de Educação, que tinha lá um programa de teatro nas escolas, do qual ninguém nunca tinha ouvido falar.
O fato é que, um dia, se reuniu a patota interessada com um senhor muito simpático, chamado Roberto de Cleto, e que ia tocar aquilo conosco.
Todo mundo ali conhecia o Roberto de Cleto, que era, invariavelmente, o príncipe no "Teatrinho Trol", contracenando com a estonteante Norma Blum, e animando as tardes de domingo na TV da nossa infância. O que não sabíamos é que ele era professor de dramaturgia e teatro e tinha enorme conhecimento e experiência no assunto.
Trouxe debaixo do braço a primeira sugestão de uma peça: "Somos todos do Jardim de Infância", do Domingos de Oliveira. Que moderno! Segundo um comentarista, a peça descreve “os momentos marcantes de um grupo de adolescentes despertando para a vida, nela encontrando os primeiros encantamentos, de sexo e ternura, as frustações iniciais de paixões”. Eu não me lembro, mas a Inteligência Artificial da moda me informa que “A peça também traz à tona questões de gênero e sexualidade, ao apresentar personagens que questionam sua orientação sexual....”
Ou seja, hoje seria um sucesso nas escolas mas naquele tempo não tinha como prosperar.
Ao ver o texto, o Diretor Sgarbi franziu a testa, deu aquele sorriso constrangido e disparou: “não precisamos disto, vamos escolher outra! “.
O texto seguinte foi o "Pic-nic no Front", do Fernando Arrabal. Quando vimos o texto, com todas as implicações de crítica aos militares pensamos que seria também cortado, mas ele passou direto!
Havia, no entanto, um grave problema. A galera inscrita para “fazer teatro” juntava os três grupos informais já existentes e o Piquenique só tinha quatro personagens: os soldados inimigos Zapo e Zepo e os pais do Zapo, Sr. e Sra. Tepan.
A solução brilhante e “moderna” foi fazer três palcos, com dois conjuntos de atores. Quando uns falavam, os outros faziam mímica! Algumas vezes a ação passava para um palco central, misturando os dois grupos e fazendo uma dinâmica bem interessante.
Montamos um jogo com as luzes, que dirigia o foco para o palco onde estava a ação. E também trabalhamos o som, fazendo os fundos que traziam uma ambiência engraçada e uniam as cenas! Claro que o apoio, junto com o diretor, trazia técnicos de iluminação que nos ensinaram a “afinar” e direcionar refletores, selecionar as cores das luzes, etc.
Como eu me intitulava “Diretor” de um dos grupos originais e tinha boa experiência com gravação de fitas, fiquei encarregado de criar a trilha com as músicas e efeitos sonoros. Claro, todo mundo deu palpites!
Na hora da ação, eu ficava sentado numa pequena ilha centralizada no meio do público, comandando esses equipamentos de som e luz. Em um dado momento, numa cena que era originalmente narrada pelos soldados, eu saía da tal ilha, passava no meio do público, entrava em cena e fazia o Capitão!
Mesmo com os acréscimos de atores, ainda estavam de fora 4 meninas. A solução foi pedir que inventassem suas próprias falas e entrassem em cena como mocinhas procurando rapazes disponíveis (“todos tinham ido prá guerra!”) ou enfermeiras muito doidas procurando corpos!
Como em todos os nossos projetos, foi um adorável esforço de criação coletiva. As ideias surgiam livremente e iam sendo agregadas, com o incentivo e a arrumação final do Cleto. ESSA era a nossa ideia de fazer teatro. Ou artes plásticas, ou música. Era o prazer de criar coisas, ter ideias e mostrá-las.
Esse processo foi admitido e destacado pelo próprio Roberto de Cleto no programa do espetáculo que diz “Pic-Nic no Front", de Arrabal (Com a colaboração do elenco).”
E foi assim...
Ivan Simas, 05/03/23
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Fernando Arrabal é um escritor, poeta e dramaturgo espanhol nascido em 1932. Ele é conhecido por suas obras teatrais surrealistas e transgressivas, que frequentemente exploram temas como violência, poder, sexualidade e identidade, e que frequentemente desafiam as normas sociais e culturais.
"Pic-nic no front" foi adaptada e dirigida por Arrabal e produzida pela primeira vez em 1957 ("nota do editor: 1959, segundo wikipedia - ver https://en.wikipedia.org/wiki/Theatre_of_the_Absurd"), no Théâtre de Babylone em Paris. A adaptação foi intitulada "Picnic on the Battlefield" e teve bastante sucesso, recebendo elogios da crítica e do público.
A peça se passa durante uma guerra e acompanha a história de dois soldados, Téophile e Zapo, que foram enviados para lutar em lados opostos do campo de batalha. No entanto, eles logo se encontram presos no meio do campo de batalha e decidem fazer um piquenique juntos. Enquanto desfrutam da comida e da bebida, compartilham histórias sobre suas vidas e famílias, e até trocam presentes.
Apesar dos horrores da guerra que os cercam, os dois soldados desenvolvem uma amizade e encontram pontos em comum, mesmo enquanto reconhecem suas diferenças. A peça é um comentário sobre a falta de sentido da guerra e o desejo universal de conexão humana.
A montagem dirigida por Arrabal marcou a estreia da peça no teatro europeu e teve grande influência no cenário teatral da época.
Antonio Roberto Alvarenga de Cleto foi um dramaturgo, diretor e ator brasileiro. Ele é bastante conhecido no meio teatral e tem um extenso currículo na área.
Como dramaturgo, Cleto escreveu diversas peças de teatro que foram encenadas em diferentes regiões do Brasil. Algumas de suas obras são "De Braços Abertos", "Vozes Anônimas" e "A Dança das Folhas Mortas".
E uma das produções mais conhecidas em que ele atuou foi a peça "Pic-nic no front", escrita por Fernando Arrabal e dirigida por José Renato. Teve um papel importante na montagem da peça, que é considerada um marco do teatro brasileiro.
Como diretor e ator, Cleto também possuía uma vasta experiência. Ele dirigiu e atuou em diversas produções teatrais, incluindo espetáculos de teatro de rua e de teatro de bonecos.
Roberto de Cleto nasceu em Cabo Frio em 18 de agosto de 1931e faleceu no Rio de Janeiro em 25 de janeiro de 2002.
Nota do editor: veja mais em Wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_de_Cleto
ChatGPT, 20/02/2023 *
Paquetá, 21/11/1969
Paquetá, 21/11/1969
* " ChatGPT may occasionally generate incorrect information"